sábado, 15 de dezembro de 2012

A Joia e o Fantasma


Na História Assombrada de hoje conheceremos uma tradicional família carioca que tem a vida assombrada por um espírito vingativo e revoltado. Muitas surpresas e suspense lhe reservam este relato que fala sobre ganancia, mistérios e fantasmas...



Era um dia ensolarado e Lazaro levava a família para um divertido passeio de bicicleta pela cidade. O sol cintilava quente e todos decidiram tomar um sorvete no parque. Lazaro era um homem rechonchudo e calvo, em seu rosto havia um atraente bigode preto com fios esbranquiçados, seu filho Miguel, era alto, de pele pálida e possuía os olhos azuis da mãe e a família era extremamente unida e feliz. Era comum ve-los passear pelo parque ou reunidos a conversarem. Naquela tarde, sentaram-se sobre um eucalipto após devolverem as bicicletas alugadas. Enquanto o grupo conversava animadamente, um estranho de vestes rasgadas e sujas, levemente dopado por drogas aproximava-se do grupo tropegamente.
Enquanto Miguel, o esguio e estudioso filho pré- adolescente de Lazaro tomava o sorvete de leite com canela gulosamente, Lazaro notou a aproximação do estranho  rapaz. O sol descia no horizonte deixando luzes douradas caírem sobre as árvores retorcidas e centenárias. Por alguns instantes, Lazaro observou o rapaz incomodar os poucos caminhantes que ainda restavam no parque em meio a semiescuridão. Instantes depois, descobrindo-se observado, o indivíduo aproximou-se tropegamente da família com um sorriso injetado nos lábios enrugados.
- Olha só.- disse com um sorriso desvairado, enquanto retirava tremulamente, um embrulho do bolso da calça de jeans preta e empoeirada.- Vendo isso pra vocês por trinta reais.
- Não estamos interessados, rapaz. –disse Stela a mulher de Lazaro com ar de reprovação.
- Espere! Vamos ver o que ele tem, querida!- exclamou Lazaro. O rapaz com as mãos esqueléticas e arroxeadas, desembrulhou do papel amassado um brilhante anel de ouro cravejado de diamantes. Era um objeto delicado que reluzia em meio a escuridão.
A noite caia como uma mortalha em meio aos poucos raios de sol. O rapaz olhava-os com impaciência e nervosismo.
- Eu fico com o anel. –disse Lazaro que estava admirado com o belo objeto semi-reluzente.
 Contra os veementes protestos de Stela, o homem de meia idade, encantado com a beleza do objeto comprou-o. O rapaz satisfeito com o novo dinheiro que conseguira, saiu deixando-os em paz. Eles caminharam para casa após o sorvete enquanto Lazaro ouvia a conversa da esposa e do filho desatento. Ele estava feliz com o anel adquirido naquele fim de tarde. Na manhã seguinte, Stela arrumava as roupas quando sentiu uma leve tontura enquanto descia as escadas de ferro com o enorme cesto de roupas até a lavanderia no fundo da casa. Observou as escadas desastradamente, e segurou-se, por alguns instantes pensou que iria cair enquanto descia tropegamente.
Em meio a escuridão ela teve a estranha sensação de sentir grandes mãos geladas puxarem-na insistentemente escada abaixo. Com muito custo e cuidado a doce dona de casa desceu as escadarias, e caminhou desajeitadamente até o maquina para depositar-lhes as roupas. Ela era uma senhora alta, morena e suas mãos antes longas e fortes agora encontravam-se tremulas e apreensivas. Ela retirou a calça do marido da cesta branca de plástico e notou que dentro de um dos bolsos  descosturados da calça do marido encontrava-se o brilhante anel de diamantes. Sem saber porque, a mulher jogou o anel de lado apreensiva e embolou desajeitada as calças na maquina ligando-a em seguida. Ao seu lado, próximo a escadaria, uma estranha voz embargada pareceu grunhir com rancor.
Lazaro foi a joalheria, alguns dias depois, e descobriu que o anel realmente era de diamantes. Isto deixou-o terrivelmente satisfeito. Na manhã seguinte quando acordou e enquanto colocava os tênis para caminhar até o colegial, Miguel teve a impressão de ouvir uma voz masculina gutural sussurrar sorrateiramente em seu ouvido algo como a palavra: Devolva-me. Quando comentou com a família, Stela pareceu atônita e Lazaro agiu de forma desconfiada. Isto criou um certo desconforto entre a família que outrora fora tão unida. Na manhã seguinte Lazaro voltou para casa com uma cara disforme e contrariada. Enquanto discutiam soturnamente na cozinha da casa em meio a noite, Lazaro revelou a esposa, com rancor e amargura que havia sido demitido da empresa onde trabalhava e que tinha poucas economias para manter a familha.
- Porque não vende o maldito anel?!- exclamou dona Stela furiosa.
- Eu já disse-lhe que não vou desfazer-me por enquanto do objeto! –exclamou Lazaro com rancor e raiva.- Agora pare de atormentar-me mulher. – Desesperado por sair daquele ambiente mórbido e pesado, Miguel trocou de roupa ansiando por ar puro e saiu com os amigos. No entanto o rapaz não conseguiu acalmar-se, bebeu muito durante a festa dos amigos e chegou tarde em casa naquela noite encontrando-se com dona Stela apreensiva e insatisfeita a espera-lo no portão. Com o passar dos dias, dona Stela sentia-se a cada instante mais aprisionada pelo clima pesado que formara-se na casa. Agora ela percebia que não havia mais felicidade para ela no local. Estava sentindo-se péssima. Durante a noite enquanto tentava dormir, sentia uma respiração próxima ao seu ouvido. Uma voz mórbida e sibilante que dizia: Devolva-me. Os sussurros eram incessantes. Estaria enlouquecendo?
A cada dia as coisas ficavam mais estranhas na casa da família. Lazaro e a mulher discutiam terrivelmente. Miguel tornava-se cada vez mais calado e frio com os familiares. Aos poucos o menino começou a ter estranhas visões. Tudo começou certo dia, quando estudava no quarto e sentiu um estranho cheiro de sangue. Um vulto negro encarava-lhe no canto do quarto macabramente. Foi então que o jovem começou a ver esta misteriosa aparição. Durante as tardes de verão, quando descia as escadas de seu quarto, o jovem encontrava-se com aquela entidade, esgueirando-se sombriamente em meio a bela sala de estar enquanto os pais discutiam violentamente. O jovem então começou a notar a presença da misteriosa criatura das sombras constantemente no casarão da família. Via-o enquanto estudava durante as tardes quentes e ensolaradas no quarto. Via- o enquanto a mãe preparava calmamente o almoço as dez da manhã com olhar distraído. Via- o em um canto obscuro da sala enquanto a família assistia t.v. Certo dia enquanto Stela costurava na sala de estar, ele sentou-se ao seu lado: 
 - Mãe? A senhora acredita em espíritos?-perguntou-lhe o jovem temeroso.
- Porque diz isso?-perguntou-lhe a mulher consternada.
O rapaz contou-lhe toda a história das visões que começava a ter no sobrado da misteriosa aparição que esgueirava-se sombriamente em meio ao casarão. A mãe por sua vez, abatida, revelou-lhe surpreendentemente que também estava tendo visões.
- E um fantasma. –admitiu o rapaz confuso.- E eu acho que não é um ser bom. Eu acho que de alguma forma esta entidade ou seja lá o que for, esta jogando-nos uns contra os outros aqui. É como se sempre que algo de mal acontecesse este ser estivesse presente próximo a um de nós.
- Acredita então que é uma entidade maligna?-perguntou-lhe Stela horrorizada. Neste instante a porta de madeira abriu-se em um baque surdo e o pai entrou com mau humor. Ambos encaminharam-se para a sala de jantar e alimentaram-se em silencio. Stela começava a ficar assustada com os acontecimentos da casa. Na manhã seguinte, após preparar o café da manhã, Stela caminhou até a Biblioteca. Chegando lá pediu a atendente algum material sobre assombrações. A mulher entregou-lhe livros que diziam tudo a respeito de espíritos, manifestações e entidades para- normais.
Naquela tarde quente ela convidou o filho para tomar um milk-shake como costumavam fazer sempre em uma lanchonete a alguns quarteirões da casa. Ela disse:
- Eu pesquisei sobre os fenômenos estranhos que estão ocorrendo em nossa casa na Biblioteca nesta manhã.- disse a mulher ao rapaz nervosa.- Espíritos apegam-se a matéria e permanecem neste mundo quando possuem assuntos não resolvidos. A única forma de faze-los deixarem este mundo e seguirem seu caminho é resolvendo seus assuntos pendentes.
O rapaz engoliu uma colherada de sorvete desajeitadamente. Então a sua casa estava sendo assombrada? Isto era absurdo e assustador. Ele sentiu um calafrio:
- E como resolvemos isto?-perguntou.
- Devemos saber o que ele precisa para seguir em diante. –disse a mulher assustada.
Eram seis horas quando a dupla retornou para o casarão.
- Eu acho melhor resolvermos este história de uma vez. –disse Miguel aflito.
Stela e o menino sentaram-se no chão e colocaram o tabuleiro quija sobre a mesa de centro. Miguel colocou a mão sobre o copo nervoso:
- Bem é melhor a senhora começar logo com isto.
Ela fez a pergunta:
- Há alguém conosco nesta sala.
Após alguns instantes, para espanto da dupla o copo moveu-se lepidamente pelo tabuleiro formando a seguite frase:
ESTÃO COM MEU ANEL
Stela respirou fundo sobressaltada. Sabia que o tal anel tinha parte na história.
- Quem é você?-perguntou Miguel.
DEVOLVAM
Neste instante um vaso com as rosas vermelhas próximo a janela arremessou-se contra a parede espatifando-se em mil pedacinhos.
- Eu acho melhor não insistirmos mais. –disse Stela horrorizada. Naquela noite enquanto todos reuniam-se na mesa a senhora resolveu dizer ao marido:- Lázaro querido, acho que precisamos conversar.
- O que foi?-esbravejou o outro.
- Já percebeu que desde que adquiriu o anel daquele rapaz estranho coisas esquisitas começaram a acontecer nesta casa?
E então contou ao marido toda a história sobre as aparições presenciadas por Miguel e a caminhada até a Biblioteca. Contou também sobre a misteriosa entrevista sobrenatural com o tabuleiro quija.
- Acho que devemos jogar essa droga fora!- exclamou por fim com medo.- Acredito que o espírito esta de alguma forma ligado ao anel.
- Isso é superstição. –disse o marido.- Creio que vocês apenas se impressionaram com a aparência do jovem. Ele deve haver roubado o objeto de alguém. Estou certo disto. Acreditam que eu levei o anel até a joalheria e eles me disseram que é extremamente valioso.
- Mas...
- Estamos em uma difícil situação financeira querida. Não posso desfazer-me assim de um artefato tão valioso!- disse o senhor com teimosia.
Na manhã seguinte, Stela permaneceu aflita e intrigada. Precisava encontrar uma forma de se desfazer do objeto! As coisas podiam piorar bem, segundo a pesquisa que fizera na Biblioteca, espíritos vingativos podiam interferir malevolamente de diversas formas na rotina de uma família. O problema era que se ela se desfizesse do adorno o marido acusaria- a de implicância. Precisava de alguma forma provar para Lázaro que o objeto era-lhes prejudicial. Decidiu então que precisava descobrir de onde viera o anel Precisava encontrar-se novamente com o misterioso rapaz do parque. Mas sabia que isto poderia ser perigoso. Naquela tarde ela retornou ao parque no mesmo horário em que encontrara o misterioso marginal. Aquela tarde estava dourada e quente, a mulher colocou uma roupa de caminhada, pegou uma garrafa de água gelada e começou a caminhar pelo parque ansiosa a procura do tal rapaz. Procurou-o por um bom tempo sem sucesso. Caminhou então até um dos guardas que fazia ronda no parque. Após descrever minunciosamente o indivíduo para o guarda teve uma grande surpresa:
- É o Jânio. Ele é um ladrãozinho de merda! –exclamou o homem grandalhão limpando as gotículas de suor do rosto com um lenço de seda.- Ele já aprontou muito neste parque. Tem sorte de ele não lhes haver roubado!- exclamou.- Mas creio que nem eu ou você o encontraremos. Nem por aqui nem em um lugar algum.- disse com certa satisfação mórbida no rosto envelhecido.
- Não entendo. – grunhiu a mulher impaciente.
- Ele foi encontrado morto. Em um desses becos escuros da cidade.
A mulher sentiu um calafrio:
- Morto?-perguntou aterrorizada.- Como?
- Bem. Pelo que eu sei... o rapaz estava meio maluco. Dizia ouvir vozes e ver coisas. Maluquice, talvez trate-se do efeito das drogas. Certo dia ele disse-me que que um vulto negro queria mata-lo.
- ´Tem certeza que ele disse isto?-perguntou a mulher com horror.
- A senhora é alguma conhecida dele?-perguntou o guarda notando seu desespero.
- Não.... –disse ela conternada tentando encontrar uma desculpa.- Eu queria ajuda-lo a reabilitar-se. –mentiu. – Sou assistente social. –mentiu novamente.
O guarda olhou-a desconfiado:
- Bem, de qualquer forma eu acho que o cara não tinha mais jeito não. Estava doidinho da silva. Cometeu suicídio. Foi encontrado com os dois pulsos com talhos enormes neste beco que eu te falei. –concluiu o homem.
A mulher sentiu um calafrio percorrer-lhe. O espírito enfim vingara-se do rapaz pelo roubo de seu anel.
- O senhor sabe se ele tem algum conhecido?-perguntou ela.- Alguém que saiba melhor como isto ocorreu?
O guarda deu-lhe o endereço da namorada do rapaz no suburbio. A mulher pegou o endereço e colocou no bolso da blusa da algodão. Em seguida retornou ao casarão. Ao atravessar o jardim encontrou Miguel sentado na varanda com olhar parado. Ela entrou e preparou o jantar. Enquanto cozinhava observou o querido rapaz que mal mexia-se enquanto permanecia com os olhos parados sentado em um confortável sofá na varanda. Ela sabia que o espírito do anel estava manipulando sua família. Estava basicamente certa de que seu filho ou o seu marido certamente poderiam obter o mesmo fim do pobre Jânio. Ela decidiu falar com Miguel. Stela sentou-se ao lado do rapaz na varanda. Antes que pudesse dizer algo o menino olhou-a. Havia medo em seu rosto:
- Eu acho que estou enlouquecendo.- disse-lhe o rapaz.- Não consigo mais me concentrar em nada. Ele esta na minha cabeça mãe. Ele esta me tirando o juízo.
- Querido. –disse ela com a voz embargada de comoção.- Preciso que seja forte. Eu vou conseguir convencer Lazara a livrar-se... daquilo. Você verá! Estamos travando uma guerra dentro desta casa e terá de manter-se são até que eu consiga resolver esta história.
Naquela noite enquanto lavava as pratarias na cozinha, Stela sentiu uma forte dor. Ela colocou a mão sobre o peito e sentou-se. Em sua mente ouviam-se as palavras sussurradas macabramente: Devolva-me. Devolva-me ou morrerá! Morrerão todos.  Devolva-me ou mato a todos! Repetia a voz angustiada em sua mente. Ela sentiu a dor crescer. Perdia as forças lentamente e a respiração ficava arquejante. Devolva-me velha estúpida! Devolva-me ou mato a todos! Ela começou a tremer lentamente. Sua boca estava seca e dolorida. Ela estava morrendo. A coisa estava matando- lhe.
Quando a dor cessou ela caminhou tropegamente até a geladeira e tomou um copo de leite gelado. Em meio ao medo e a apreensão, a dona de casa decidiu que se livraria do anel naquela mesma noite. Assustada e cansada subiu tropegamente as escadas e caminhou até o quarto onde o marido guardava -o. Abriu as gavetas do guarda roupa agilmente e começou a revirar-lhe . Com voz intrigada ela murmurou:
- Mas onde enfiou-se...
- Esta procurando a joia?-perguntou-lhe o marido surgindo na porta do quarto.
- Lazaro? Já chegou?- perguntou atônita.
- Eu sabia que procuraria- o. –disse o marido chateado.- Droga Stela. Não posso deixa-la cometer tal loucura. Aquele anel é a nossa única salvação em um momento de crise. Eu tive de esconde-lo! Não posso de forma alguma deixar que desfaça-se de nosso único objeto de valor!
- Você nunca deveria ter comprado esta porcaria!- exclamou ela com toda sua raiva.- Este maldito objeto é assombrado! Algo de muito ruim esta ligado a esta coisa. Você não entende que é perigoso mante- lo?
- Esta se portando como uma velha supersticiosa meu bem. Cismou com o objeto. Deixe de tolices! –exclamou o senhor com um sorriso.
Ela saiu do quarto a passos largos. Na manhã seguinte enquanto caminhava pelas sombrias ruas do subúrbio da grande metrópole, a mulher amaldiçoava o dia em que o marido se apoderara do objeto. Caminhando desajeitadamente pelos passeios esburacados e sujos Stela finalmente chegou no endereço que procurava. A velha casa de Zelda a namorada do rapaz que trouxera-lhe aquela maldita encrenca de ouro maciço. A mulher bateu na porta rústica. Uma mulher de cabelos negros e roupas desleixadas abriu- lhe:
- O que a madame qué?-perguntou a jovem com descaso.
- Quero falar sobre o Jânio.- disse com a voz nervosa.- Quero saber sobre um anel que ele vendeu ao meu marido.
A mulher sorriu com os dentes amarelos:
- Depende.
- Depende de que?
- De que anel a senhora ta falando!- exclamou a mulher que parecia levemente embebedada.- O Jânio roubava tanto que é difícil saber de que anel a senhora ta falando. Aquele maluco!- exclamou ela com amargura.- Você acredita que o estúpido fumou tanto que acabou enlouquecendo? Imagine! Até tentou me matar!
- Como assim?
- Ué! Certo dia, antes de cometer suicídio, o maluco veio para cima de mim com uma arma e se eu não tivesse gritado o estúpido teria me tirado a vida!- exclamou a mulher amarga coçando o cabelo desgrenhado. - Aquele verme não tava batendo muito bem dos miolo!- exclamou secamente.- Di qual anel ocê qué sabe?
Após a senhora descrever o anel descrever o anel Zelda mostrou-se abobada e temerosa:
- Eu não sei sobre esse anel não moça!- exclamou fechando a porta.
Desesperada Stela colocou o pé entre a porta para impedir que esta se fechasse.
- Espera! É importante. Preciso saber onde ele encontrou  a jóia. É importante moça.
- Ocê num foi mandada aqui pelos capangangas do Tiago não foi?-perguntou a mulherzinha lívida de terror.
- Não. Sou uma dona de casa. Preciso saber a quem pertence o objeto para devolve-lo! –exclamou Stela com insistência e desespero.
- Se eu fosse a senhora num me atrevia a devolver não!- exclamou a jovem plantando-se desajeitadamente na porta.- A senhora já ouviu falar do dono do morro o Tiagão? O Jânio tirou aquela droga do dedo dele quando foi encontrado morto em uma esquina aí. Em vida ele foi muito apegado ao objeto. Eu não sei porque o Jânio foi meter-se com aquela porcaria que aquele bandido tanto estimava. As vezes eu tinha impressão de que mesmo depois da morte o Tiagão ainda não se desgrudou daquela porcaria.
Naquela mesma noite Stela vasculhou todo o quarto a procura do objeto. Encontrou-o escondido em uma das caixas de sapato do marido. Desesperada dirigiu-se até a praia. Acreditava que se jogasse o anel no mar ficara completamente livre das aparições fantasmagóricas do traficante assassinado. Enquanto caminhava pela praia deserta sentia um estranho vulto negro seguindo-a. Desesperada atirou o anel no mar e correu até o carro dirigindo-se para casa. Ao chegar no casarão encontrou o marido e o filho conversando animadamente no quarto. A casa parecia feliz e encantadora novamente. Com o passar dos dias Lazaro finalmente deixou de implicar com o sumiço da jóia. A harmonia retornou no casarão e voltaram os passeios de bicicleta e as conversas e risos alegres. A sombra do objeto amaldiçoado já não projetava-se mais sobre o casarão.
Nunca se deve apossar-se do que não é seu, pois, enquanto a família de Lazaro reencontrou a felicidade; na praia de copa cabana, esquecido em meio aos entulhos e toda espécie de lixo, permanece ainda o perigoso anel amaldiçoado, cintilando sobre a luz do sol a espera de mais um oportunista azarado que se apoderará de sua terrível maldição.

Fim

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