Na História Assombrada de hoje conheceremos uma tradicional família carioca que tem a vida assombrada por um espírito vingativo e revoltado. Muitas surpresas e suspense lhe reservam este relato que fala sobre ganancia, mistérios e fantasmas...
Era um dia ensolarado e Lazaro levava a
família para um divertido passeio de bicicleta pela cidade. O sol cintilava quente
e todos decidiram tomar um sorvete no parque. Lazaro era um homem rechonchudo e
calvo, em seu rosto havia um atraente bigode preto com fios esbranquiçados, seu
filho Miguel, era alto, de pele pálida e possuía os olhos azuis da mãe e a
família era extremamente unida e feliz. Era comum ve-los passear pelo parque ou
reunidos a conversarem. Naquela tarde, sentaram-se sobre um eucalipto após
devolverem as bicicletas alugadas. Enquanto o grupo conversava animadamente, um
estranho de vestes rasgadas e sujas, levemente dopado por drogas aproximava-se
do grupo tropegamente.
Enquanto
Miguel, o esguio e estudioso filho pré- adolescente de Lazaro tomava o sorvete
de leite com canela gulosamente, Lazaro notou a aproximação do estranho rapaz. O sol descia no horizonte deixando
luzes douradas caírem sobre as árvores retorcidas e centenárias. Por alguns
instantes, Lazaro observou o rapaz incomodar os poucos caminhantes que ainda
restavam no parque em meio a semiescuridão. Instantes depois, descobrindo-se
observado, o indivíduo aproximou-se tropegamente da família com um sorriso
injetado nos lábios enrugados.
- Olha
só.- disse com um sorriso desvairado, enquanto retirava tremulamente, um
embrulho do bolso da calça de jeans preta e empoeirada.- Vendo isso pra vocês
por trinta reais.
- Não estamos
interessados, rapaz. –disse Stela a mulher de Lazaro com ar de reprovação.
- Espere!
Vamos ver o que ele tem, querida!- exclamou Lazaro. O rapaz com as mãos
esqueléticas e arroxeadas, desembrulhou do papel amassado um brilhante anel de
ouro cravejado de diamantes. Era um objeto delicado que reluzia em meio a
escuridão.
A noite
caia como uma mortalha em meio aos poucos raios de sol. O rapaz olhava-os com
impaciência e nervosismo.
- Eu fico
com o anel. –disse Lazaro que estava admirado com o belo objeto semi-reluzente.
Contra os veementes protestos de Stela, o
homem de meia idade, encantado com a beleza do objeto comprou-o. O rapaz
satisfeito com o novo dinheiro que conseguira, saiu deixando-os em paz. Eles
caminharam para casa após o sorvete enquanto Lazaro ouvia a conversa da esposa
e do filho desatento. Ele estava feliz com o anel adquirido naquele fim de
tarde. Na manhã seguinte, Stela arrumava as roupas quando sentiu uma leve
tontura enquanto descia as escadas de ferro com o enorme cesto de roupas até a
lavanderia no fundo da casa. Observou as escadas desastradamente, e segurou-se,
por alguns instantes pensou que iria cair enquanto descia tropegamente.
Em meio a
escuridão ela teve a estranha sensação de sentir grandes mãos geladas
puxarem-na insistentemente escada abaixo. Com muito custo e cuidado a doce dona
de casa desceu as escadarias, e caminhou desajeitadamente até o maquina para
depositar-lhes as roupas. Ela era uma senhora alta, morena e suas mãos antes
longas e fortes agora encontravam-se tremulas e apreensivas. Ela retirou a
calça do marido da cesta branca de plástico e notou que dentro de um dos
bolsos descosturados da calça do marido
encontrava-se o brilhante anel de diamantes. Sem saber porque, a mulher jogou o
anel de lado apreensiva e embolou desajeitada as calças na maquina ligando-a em
seguida. Ao seu lado, próximo a escadaria, uma estranha voz embargada pareceu
grunhir com rancor.
Lazaro
foi a joalheria, alguns dias depois, e descobriu que o anel realmente era de
diamantes. Isto deixou-o terrivelmente satisfeito. Na manhã seguinte quando
acordou e enquanto colocava os tênis para caminhar até o colegial, Miguel teve
a impressão de ouvir uma voz masculina gutural sussurrar sorrateiramente em seu
ouvido algo como a palavra: Devolva-me. Quando comentou com a família, Stela
pareceu atônita e Lazaro agiu de forma desconfiada. Isto criou um certo
desconforto entre a família que outrora fora tão unida. Na manhã seguinte
Lazaro voltou para casa com uma cara disforme e contrariada. Enquanto discutiam
soturnamente na cozinha da casa em meio a noite, Lazaro revelou a esposa, com
rancor e amargura que havia sido demitido da empresa onde trabalhava e que
tinha poucas economias para manter a familha.
- Porque
não vende o maldito anel?!- exclamou dona Stela furiosa.
- Eu já
disse-lhe que não vou desfazer-me por enquanto do objeto! –exclamou Lazaro com
rancor e raiva.- Agora pare de atormentar-me mulher. – Desesperado por sair
daquele ambiente mórbido e pesado, Miguel trocou de roupa ansiando por ar puro
e saiu com os amigos. No entanto o rapaz não conseguiu acalmar-se, bebeu muito
durante a festa dos amigos e chegou tarde em casa naquela noite encontrando-se
com dona Stela apreensiva e insatisfeita a espera-lo no portão. Com o passar
dos dias, dona Stela sentia-se a cada instante mais aprisionada pelo clima
pesado que formara-se na casa. Agora ela percebia que não havia mais felicidade
para ela no local. Estava sentindo-se péssima. Durante a noite enquanto tentava
dormir, sentia uma respiração próxima ao seu ouvido. Uma voz mórbida e
sibilante que dizia: Devolva-me. Os sussurros eram incessantes. Estaria
enlouquecendo?
A cada
dia as coisas ficavam mais estranhas na casa da família. Lazaro e a mulher
discutiam terrivelmente. Miguel tornava-se cada vez mais calado e frio com os
familiares. Aos poucos o menino começou a ter estranhas visões. Tudo começou
certo dia, quando estudava no quarto e sentiu um estranho cheiro de sangue. Um
vulto negro encarava-lhe no canto do quarto macabramente. Foi então que o jovem
começou a ver esta misteriosa aparição. Durante as tardes de verão, quando
descia as escadas de seu quarto, o jovem encontrava-se com aquela entidade,
esgueirando-se sombriamente em meio a bela sala de estar enquanto os pais
discutiam violentamente. O jovem então começou a notar a presença da misteriosa
criatura das sombras constantemente no casarão da família. Via-o enquanto
estudava durante as tardes quentes e ensolaradas no quarto. Via- o enquanto a
mãe preparava calmamente o almoço as dez da manhã com olhar distraído. Via- o
em um canto obscuro da sala enquanto a família assistia t.v. Certo dia enquanto
Stela costurava na sala de estar, ele sentou-se ao seu lado:
- Mãe? A senhora acredita em espíritos?-perguntou-lhe
o jovem temeroso.
- Porque
diz isso?-perguntou-lhe a mulher consternada.
O rapaz
contou-lhe toda a história das visões que começava a ter no sobrado da
misteriosa aparição que esgueirava-se sombriamente em meio ao casarão. A mãe
por sua vez, abatida, revelou-lhe surpreendentemente que também estava tendo
visões.
- E um
fantasma. –admitiu o rapaz confuso.- E eu acho que não é um ser bom. Eu acho
que de alguma forma esta entidade ou seja lá o que for, esta jogando-nos uns
contra os outros aqui. É como se sempre que algo de mal acontecesse este ser
estivesse presente próximo a um de nós.
-
Acredita então que é uma entidade maligna?-perguntou-lhe Stela horrorizada.
Neste instante a porta de madeira abriu-se em um baque surdo e o pai entrou com
mau humor. Ambos encaminharam-se para a sala de jantar e alimentaram-se em
silencio. Stela começava a ficar assustada com os acontecimentos da casa. Na
manhã seguinte, após preparar o café da manhã, Stela caminhou até a Biblioteca.
Chegando lá pediu a atendente algum material sobre assombrações. A mulher
entregou-lhe livros que diziam tudo a respeito de espíritos, manifestações e
entidades para- normais.
Naquela
tarde quente ela convidou o filho para tomar um milk-shake como costumavam
fazer sempre em uma lanchonete a alguns quarteirões da casa. Ela disse:
- Eu
pesquisei sobre os fenômenos estranhos que estão ocorrendo em nossa casa na
Biblioteca nesta manhã.- disse a mulher ao rapaz nervosa.- Espíritos apegam-se
a matéria e permanecem neste mundo quando possuem assuntos não resolvidos. A
única forma de faze-los deixarem este mundo e seguirem seu caminho é resolvendo
seus assuntos pendentes.
O rapaz
engoliu uma colherada de sorvete desajeitadamente. Então a sua casa estava
sendo assombrada? Isto era absurdo e assustador. Ele sentiu um calafrio:
- E como
resolvemos isto?-perguntou.
- Devemos
saber o que ele precisa para seguir em diante. –disse a mulher assustada.
Eram seis
horas quando a dupla retornou para o casarão.
- Eu acho
melhor resolvermos este história de uma vez. –disse Miguel aflito.
Stela e o
menino sentaram-se no chão e colocaram o tabuleiro quija sobre a mesa de
centro. Miguel colocou a mão sobre o copo nervoso:
- Bem é
melhor a senhora começar logo com isto.
Ela fez a
pergunta:
- Há
alguém conosco nesta sala.
Após
alguns instantes, para espanto da dupla o copo moveu-se lepidamente pelo
tabuleiro formando a seguite frase:
ESTÃO COM
MEU ANEL
Stela
respirou fundo sobressaltada. Sabia que o tal anel tinha parte na história.
- Quem é
você?-perguntou Miguel.
DEVOLVAM
Neste
instante um vaso com as rosas vermelhas próximo a janela arremessou-se contra a
parede espatifando-se em mil pedacinhos.
- Eu acho
melhor não insistirmos mais. –disse Stela horrorizada. Naquela noite enquanto
todos reuniam-se na mesa a senhora resolveu dizer ao marido:- Lázaro querido,
acho que precisamos conversar.
- O que
foi?-esbravejou o outro.
- Já
percebeu que desde que adquiriu o anel daquele rapaz estranho coisas esquisitas
começaram a acontecer nesta casa?
E então
contou ao marido toda a história sobre as aparições presenciadas por Miguel e a
caminhada até a Biblioteca. Contou também sobre a misteriosa entrevista
sobrenatural com o tabuleiro quija.
- Acho
que devemos jogar essa droga fora!- exclamou por fim com medo.- Acredito que o
espírito esta de alguma forma ligado ao anel.
- Isso é superstição.
–disse o marido.- Creio que vocês apenas se impressionaram com a aparência do
jovem. Ele deve haver roubado o objeto de alguém. Estou certo disto. Acreditam
que eu levei o anel até a joalheria e eles me disseram que é extremamente
valioso.
- Mas...
- Estamos
em uma difícil situação financeira querida. Não posso desfazer-me assim de um
artefato tão valioso!- disse o senhor com teimosia.
Na manhã
seguinte, Stela permaneceu aflita e intrigada. Precisava encontrar uma forma de
se desfazer do objeto! As coisas podiam piorar bem, segundo a pesquisa que
fizera na Biblioteca, espíritos vingativos podiam interferir malevolamente de
diversas formas na rotina de uma família. O problema era que se ela se
desfizesse do adorno o marido acusaria- a de implicância. Precisava de alguma
forma provar para Lázaro que o objeto era-lhes prejudicial. Decidiu então que
precisava descobrir de onde viera o anel Precisava encontrar-se novamente com o
misterioso rapaz do parque. Mas sabia que isto poderia ser perigoso. Naquela
tarde ela retornou ao parque no mesmo horário em que encontrara o misterioso
marginal. Aquela tarde estava dourada e quente, a mulher colocou uma roupa de
caminhada, pegou uma garrafa de água gelada e começou a caminhar pelo parque
ansiosa a procura do tal rapaz. Procurou-o por um bom tempo sem sucesso.
Caminhou então até um dos guardas que fazia ronda no parque. Após descrever
minunciosamente o indivíduo para o guarda teve uma grande surpresa:
- É o
Jânio. Ele é um ladrãozinho de merda! –exclamou o homem grandalhão limpando as
gotículas de suor do rosto com um lenço de seda.- Ele já aprontou muito neste
parque. Tem sorte de ele não lhes haver roubado!- exclamou.- Mas creio que nem
eu ou você o encontraremos. Nem por aqui nem em um lugar algum.- disse com
certa satisfação mórbida no rosto envelhecido.
- Não
entendo. – grunhiu a mulher impaciente.
- Ele foi
encontrado morto. Em um desses becos escuros da cidade.
A mulher
sentiu um calafrio:
-
Morto?-perguntou aterrorizada.- Como?
- Bem.
Pelo que eu sei... o rapaz estava meio maluco. Dizia ouvir vozes e ver coisas.
Maluquice, talvez trate-se do efeito das drogas. Certo dia ele disse-me que que
um vulto negro queria mata-lo.
- ´Tem
certeza que ele disse isto?-perguntou a mulher com horror.
- A
senhora é alguma conhecida dele?-perguntou o guarda notando seu desespero.
- Não....
–disse ela conternada tentando encontrar uma desculpa.- Eu queria ajuda-lo a
reabilitar-se. –mentiu. – Sou assistente social. –mentiu novamente.
O guarda
olhou-a desconfiado:
- Bem, de
qualquer forma eu acho que o cara não tinha mais jeito não. Estava doidinho da
silva. Cometeu suicídio. Foi encontrado com os dois pulsos com talhos enormes
neste beco que eu te falei. –concluiu o homem.
A mulher
sentiu um calafrio percorrer-lhe. O espírito enfim vingara-se do rapaz pelo
roubo de seu anel.
- O
senhor sabe se ele tem algum conhecido?-perguntou ela.- Alguém que saiba melhor
como isto ocorreu?
O guarda
deu-lhe o endereço da namorada do rapaz no suburbio. A mulher pegou o endereço
e colocou no bolso da blusa da algodão. Em seguida retornou ao casarão. Ao
atravessar o jardim encontrou Miguel sentado na varanda com olhar parado. Ela entrou
e preparou o jantar. Enquanto cozinhava observou o querido rapaz que mal
mexia-se enquanto permanecia com os olhos parados sentado em um confortável
sofá na varanda. Ela sabia que o espírito do anel estava manipulando sua família.
Estava basicamente certa de que seu filho ou o seu marido certamente poderiam
obter o mesmo fim do pobre Jânio. Ela decidiu falar com Miguel. Stela sentou-se
ao lado do rapaz na varanda. Antes que pudesse dizer algo o menino olhou-a.
Havia medo em seu rosto:
- Eu acho
que estou enlouquecendo.- disse-lhe o rapaz.- Não consigo mais me concentrar em
nada. Ele esta na minha cabeça mãe. Ele esta me tirando o juízo.
- Querido.
–disse ela com a voz embargada de comoção.- Preciso que seja forte. Eu vou
conseguir convencer Lazara a livrar-se... daquilo. Você verá! Estamos travando
uma guerra dentro desta casa e terá de manter-se são até que eu consiga
resolver esta história.
Naquela
noite enquanto lavava as pratarias na cozinha, Stela sentiu uma forte dor. Ela
colocou a mão sobre o peito e sentou-se. Em sua mente ouviam-se as palavras
sussurradas macabramente: Devolva-me. Devolva-me
ou morrerá! Morrerão todos. Devolva-me
ou mato a todos! Repetia a voz angustiada em sua mente. Ela sentiu a dor
crescer. Perdia as forças lentamente e a respiração ficava arquejante. Devolva-me velha estúpida! Devolva-me ou
mato a todos! Ela começou a tremer lentamente. Sua boca estava seca e
dolorida. Ela estava morrendo. A coisa estava matando- lhe.
Quando a
dor cessou ela caminhou tropegamente até a geladeira e tomou um copo de leite
gelado. Em meio ao medo e a apreensão, a dona de casa decidiu que se livraria
do anel naquela mesma noite. Assustada e cansada subiu tropegamente as escadas
e caminhou até o quarto onde o marido guardava -o. Abriu as gavetas do guarda
roupa agilmente e começou a revirar-lhe . Com voz intrigada ela murmurou:
- Mas
onde enfiou-se...
- Esta procurando
a joia?-perguntou-lhe o marido surgindo na porta do quarto.
- Lazaro?
Já chegou?- perguntou atônita.
- Eu
sabia que procuraria- o. –disse o marido chateado.- Droga Stela. Não posso
deixa-la cometer tal loucura. Aquele anel é a nossa única salvação em um
momento de crise. Eu tive de esconde-lo! Não posso de forma alguma deixar que
desfaça-se de nosso único objeto de valor!
- Você
nunca deveria ter comprado esta porcaria!- exclamou ela com toda sua raiva.-
Este maldito objeto é assombrado! Algo de muito ruim esta ligado a esta coisa.
Você não entende que é perigoso mante- lo?
- Esta se
portando como uma velha supersticiosa meu bem. Cismou com o objeto. Deixe de
tolices! –exclamou o senhor com um sorriso.
Ela saiu
do quarto a passos largos. Na manhã seguinte enquanto caminhava pelas sombrias
ruas do subúrbio da grande metrópole, a mulher amaldiçoava o dia em que o
marido se apoderara do objeto. Caminhando desajeitadamente pelos passeios
esburacados e sujos Stela finalmente chegou no endereço que procurava. A velha
casa de Zelda a namorada do rapaz que trouxera-lhe aquela maldita encrenca de
ouro maciço. A mulher bateu na porta rústica. Uma mulher de cabelos negros e roupas
desleixadas abriu- lhe:
- O que a
madame qué?-perguntou a jovem com descaso.
- Quero
falar sobre o Jânio.- disse com a voz nervosa.- Quero saber sobre um anel que
ele vendeu ao meu marido.
A mulher
sorriu com os dentes amarelos:
-
Depende.
- Depende
de que?
- De que
anel a senhora ta falando!- exclamou a mulher que parecia levemente
embebedada.- O Jânio roubava tanto que é difícil saber de que anel a senhora ta
falando. Aquele maluco!- exclamou ela com amargura.- Você acredita que o
estúpido fumou tanto que acabou enlouquecendo? Imagine! Até tentou me matar!
- Como
assim?
- Ué! Certo
dia, antes de cometer suicídio, o maluco veio para cima de mim com uma arma e
se eu não tivesse gritado o estúpido teria me tirado a vida!- exclamou a mulher
amarga coçando o cabelo desgrenhado. - Aquele verme não tava batendo muito bem
dos miolo!- exclamou secamente.- Di qual anel ocê qué sabe?
Após a
senhora descrever o anel descrever o anel Zelda mostrou-se abobada e temerosa:
- Eu não
sei sobre esse anel não moça!- exclamou fechando a porta.
Desesperada
Stela colocou o pé entre a porta para impedir que esta se fechasse.
- Espera!
É importante. Preciso saber onde ele encontrou
a jóia. É importante moça.
- Ocê num
foi mandada aqui pelos capangangas do Tiago não foi?-perguntou a mulherzinha
lívida de terror.
- Não.
Sou uma dona de casa. Preciso saber a quem pertence o objeto para devolve-lo!
–exclamou Stela com insistência e desespero.
- Se eu
fosse a senhora num me atrevia a devolver não!- exclamou a jovem plantando-se
desajeitadamente na porta.- A senhora já ouviu falar do dono do morro o Tiagão?
O Jânio tirou aquela droga do dedo dele quando foi encontrado morto em uma
esquina aí. Em vida ele foi muito apegado ao objeto. Eu não sei porque o Jânio
foi meter-se com aquela porcaria que aquele bandido tanto estimava. As vezes eu
tinha impressão de que mesmo depois da morte o Tiagão ainda não se desgrudou
daquela porcaria.
Naquela
mesma noite Stela vasculhou todo o quarto a procura do objeto. Encontrou-o
escondido em uma das caixas de sapato do marido. Desesperada dirigiu-se até a
praia. Acreditava que se jogasse o anel no mar ficara completamente livre das
aparições fantasmagóricas do traficante assassinado. Enquanto caminhava pela
praia deserta sentia um estranho vulto negro seguindo-a. Desesperada atirou o
anel no mar e correu até o carro dirigindo-se para casa. Ao chegar no casarão
encontrou o marido e o filho conversando animadamente no quarto. A casa parecia
feliz e encantadora novamente. Com o passar dos dias Lazaro finalmente deixou
de implicar com o sumiço da jóia. A harmonia retornou no casarão e voltaram os
passeios de bicicleta e as conversas e risos alegres. A sombra do objeto amaldiçoado
já não projetava-se mais sobre o casarão.
Nunca se
deve apossar-se do que não é seu, pois, enquanto a família de Lazaro
reencontrou a felicidade; na praia de copa cabana, esquecido em meio aos
entulhos e toda espécie de lixo, permanece ainda o perigoso anel amaldiçoado,
cintilando sobre a luz do sol a espera de mais um oportunista azarado que se
apoderará de sua terrível maldição.
Fim
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